eleições 2018

Depois das eleições, lideranças santa-marienses avaliam cenário político

Eduardo Tesch e José Mauro Batista

Passado um dia do segundo turno, em que o Brasil elegeu o capitão do Exército Jair Bolsonaro (PSL) como seu novo presidente, e o Rio Grande do Sul escolheu o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB) para governar o Estado, as expectativas são muito diferentes, e a divisão prevalece, entre os segmentos representados pelos vencedores e candidatos derrotados. 

O Diário ouviu as principais lideranças políticas (veja abaixo) dos partidos envolvidos, dois representantes do empresariado local e dois cientistas políticos para avaliar os resultados de domingo e suas consequências para o país e o Estado. 

Enquanto os apoiadores de Bolsonaro acreditam em um governo de mudanças favoráveis ao país, o Partido dos Trabalhadores (PT), de Fernando Haddad, candidato derrotado à presidência da República, não vê perspectivas de um Brasil melhor e projeta uma administração de medidas contrárias. Já os dois representantes do empresariado estão otimistas em relação aos dois governantes eleitos. 

Mas quais as explicações de cientistas políticos para o resultado das urnas de domingo? Nesse campo, também há avaliações distintas. Para Reginaldo Perez, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), tanto Eduardo Leite quanto Bolsonaro foram eleitos pelo discurso de mudança. Já Guilherme Howes, professor de Teoria Social da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), previu um cenário de tensão em nível nacional. Quanto ao Estado, ele diz que não há diferenças substanciais entre o atual governador, José Ivo Sartori (MDB), e Eduardo. 

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- Venceu o discurso da mudança. Ambas as narrativas, tanto do Eduardo quanto do Bolsonaro incorporaram, de alguma maneira, o signo da mudança. Essa mudança se traduziu de duas maneiras. Uma, em nível nacional, contra a política tradicional. Aqui, com o Leite, é uma nova linguagem. Ele me parece um político promissor, com uma linguagem sofisticada, liberal e muito bem acabada - avalia Perez. 

- A expectativa maior é de medo de um governo truculento, que escolhe discurso de pacificação quando, na verdade, é um discurso de completa divisão. Será um governo de profundo retrocesso em termos de direitos humanos e ciência e tecnologia. Ocorreu uma demonização de um partido, no caso o PT, na cabeça do eleitor médio. Aqui também não vamos ter uma troca, Sartori e Leite militam no mesmo campo e estão alinhados ao projeto nacional - diz Howes.

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A REPERCUSSÃO DO PLEITO

O Diário ouviu lideranças políticas de partidos envolvidos na eleição e representantes do segmento empresarial o sobre o resultado do segundo turno e as perspectivas em relação aos governos Eduardo Leite, no Estado, e Jair Bolsonaro, no país.

"Com relação ao governo federal, tenho que pensar como prefeito, e lá vai ter o Onyx (Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil), o Luiz Carlos Heinze (senador pelo PP) e o vice-presidente, general Mourão. Eu tô muito feliz, primeiro por não ter dúvida de que ganhou a melhor proposta. Vamos ter um vínculo muito bacana. Em relação ao Eduardo Leite, tenho duas comemorações, uma como governador, outra como amigo. Nessa questão de relacionamento institucional, só temos a ganhar. Então, estou muito feliz da importância que Santa Maria vai ter." 
Jorge Pozzobom (PSDB), prefeito de Santa Maria

"Em princípio, toda projeção para o futuro por meio do PSL é normatizada por Jair Messias Bolsonaro e suas intenções de governo e elas são bastante amplas no sentido das reformas, de mudanças, inclusive nas questões tributária e na manutenção de algumas premissas básicas de outros governos, como é o caso do Bolsa-Família, mas com limpeza porque há muitas pessoas que não deveriam estar recebendo e, infelizmente, recebem. Porém, ele vai fazer mudanças. Vamos evitar em salas de aula doutrinação partidária. Em relação ao Estado, o Eduardo Leite já tinha dito que estaria junto a Bolsonaro."
Oscar de Oliveira Ramos Neto, presidente do PSL em Santa Maria

"A situação do país, na parte econômica, social e moral, é muito grave. É um desafio muito grande para o novo governo. O Brasil precisa de um estadista que tenha a compreensão do momento, e eu torço que dê certo, mas não há como avaliar. Quanto à eleição de governador, o Rio Grande do Sul tem uma tradição de não reeleger e isso é o resultado da memória histórica, do inconsciente coletivo, em função do que aconteceu antes de 1930, com a reeleição de Borges de Medeiros ao custo de conflitos. Achei que o governador teve uma derrota eleitoral e uma vitória política"
Cezar Schirmer, secretário estadual da Segurança Pública

"Na minha visão, tanto a vitória do Bolsonaro como a do Eduardo Leite eram previstas, e eu espero que eles cumpram com o que prometeram. O discurso de vitória do Bolsonaro me pareceu um bom discurso, com pautas que eu concordo bastante. Da mesma forma, o Eduardo Leite, que vem prometendo ajustar as contas do Estado com crescimento econômico. Então, se cumprirem o que estão falando, ótimo. Mas se eles desviarem dessas promessas, vou estar pronto para ser oposição. Estou bem otimista, tanto com o Estado quanto com o governo federal." 
Giuseppe Riesgo, deputado estadual pelo Novo

"Por mais que o Bolsonaro tenha ganho, quase dois terços não assinaram embaixo, não votaram favorável ao projeto de sociedade que ele defende e esse contingente precisa ser respeitado. Fomos delegados pela população para ser oposição e nossa tarefa será basicamente em cima de três questões fundamentais: defesa da democracia, no sentido amplo; defesa das garantias individuais, dos direitos civis, trabalhistas e previdencários; e, em terceiro lugar, a defesa da Amazônia, a manutenção do Brasil como um país que tem uma cultura de paz e a defesa da nossa soberania."
Paulo Pimenta, deputado federal pelo PT

"Mesmo que tenhamos perdido a eleição, tivemos 34% dos votos do país, não é pouca coisa para um partido que vem sendo bombardeado ideologicamente há mais de 16 anos. O partido precisa passar por uma reflexão, fazer uma autocrítica, é lógico. Vamos continuar lutando e faremos uma oposição responsável. Espero que o país possa mudar para os que mais precisam. No Estado, vamos fazer oposição, mas não será oposição contra o Rio Grande do Sul ou contra o governo. Vamos fazer oposição a tudo aquilo que seja contrária aos interesses da população e do serviço público."

Valdeci Oliveira, deputado estadual do PT

"Viemos de um processo de descrença na classe política e na economia. O Brasil passa por grandes dificuldades e essa esperança se renova, independentemente do nome e do partido que assumem. É preciso fazer algumas reformas e a nossa expectativa é com o corpo técnico. Que a escolha dos ministros não seja com conchavos, troca de favores, e pelo que vejo estão sendo indicados bons nomes. Em relação ao Estado, acho que o Sartori vinha fazendo um bom trabalho, mas sofreu um desgaste com atraso de salários. Espero que o novo governador dê continuidade às decisões acertadas do atual governo e que possa inovar"
Souvenir Torres Machado, presidente do Fórum de Entidades Empresariais

"As expectativas que a gente tem, em nível federal, é de que sejam feitas reformas estruturantes. Imaginamos que, com o que está posto hoje, se consiga essa resposta. A gente sabe que serão medidas amargas e impopulares, porém necessárias para que tenhamos um país desenvolvido. Será possível melhorar o país se algumas medidas forem implantadas, como as reformas da Previdência e tributária. No Estado, as duas propostas que disputaram o segundo turno, são muito alinhadas, muito parecidas. A única diferença que percebi é a forma de atuação. Qualquer uma delas estava bastante alinhada"
Rodrigo Decimo, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism)

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